"Conta-se que um jovem príncipe, ao subir ao trono, quis guiar os seus passos na vereda da virtude e do bom governo pela alta lição do passado.
Chamou os maiores sábios do reino, e incumbiu-os de ordenar para seu uso a história de todas as nações.
Ao cabo de trinta anos, apresentaram-se os sábios, seguidos de doze camelos - cada um destes carregado de quinhentos volumes.
E o decano falou:
- Senhor, eis que seis mil volumes, com tudo o que nos foi possível averiguar dos costumes dos povos e das vicissitudes dos impérios...
Mas como atrever-se o rei a manusear tamanha biblioteca? Encomendou-lhes um resumo.
Os académicos - todos eram já, se bem que autores inéditos, da Academia de História - trabalharam vinte anos. Trouxeram então mil e quinhentos volumes, sobre três camelos.
E o presidente perorou:
- Aqui tendes sapientíssimo amo, a nova obra. Julgamos ter conseguido que não fose omissa nos factos essenciais.
O monarca opôs, porém, que na sua idade já avançada, lhe era impossível tão longa leitura. Que resumissem ainda...
Ao fim de dez anos apareceram os comissionados sobreviventes, acompanhados por um só camelo suportando quinhentos volumes.
E o chefe dos grandes escritores oficiais declarou:
- É-nos grata a certeza de termos sido, desta vez, compendiosos.
Mas, desgostoso, o monarca determinou que abreviassem mais, se não queriam que ele morresse sem ter ideia do passado.
Cinco anos depois, divisaram os prevenidos palacianos, na poeirenta estrada da corte, um ansião venerando, que logo reconheceram: só ele restava da gloriosa companhia. Trazia pela arriata um burrinho, que vergava ao peso dum "in-folium".
E o mordomo-mor que logo acudira, gritou-lhe: - Apressai-vos, que Sua Magestade está afinar-se!
O rei, no seu leito de morte, lamentava-se de acabar, sem ter conhecido a história dos homens.
O velho sábio diante daquele velho soberano que, inconsolado, ia partir antes dele para a eternidade, comoveu-se, fez um grande esforço, e resumiu, em fim, convenientemente:
- A história dos homens reduz-se, Senhor, a três palavras: Nasceram, sofreram, morreram..."
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